Região é chamada de “China do Brasil”. Consumidores nordestinos visitam um supermercado 16 vezes por mês
Conhecida por ter as praias mais deslumbrantes do Brasil, o Nordeste é composto por nove estados que abrigam cerca de 30% da população nacional, parcela que foi por muito tempo socialmente ignorada pelo Centro-Sul do País. A Região, com cerca de 53 milhões de pessoas, hoje é chamada de “China do Brasil”.
Em meio a essa nova realidade, as grandes multinacionais estão se reunindo para que a região possa se beneficiar da prosperidade econômica do País, pesquisando cuidadosamente o que elas precisam fazer e de qual forma poderiam investir, seja com ideias inovadoras como um barco flutuante supermercado Nestlé ou com a compra de uma marca rival local que apresenta avanço na concorrência, como a compra do Guaraná Jesus no Maranhão pela Coca-Cola.
Por volta de 1995, quase 70% dos habitantes do Nordeste recebiam menos da metade do salário mínimo no Brasil, por volta de US$100 na época. Em 2008, 49% das pessoas da região ainda não recebiam salário mínimo, enquanto metade recebia muito acima dele. Em 2016, quando o Brasil sediará os Jogos Olímpicos, dois anos depois de ser palco para a Copa do Mundo, esse número deverá cair para 28%, de acordo com o Instituto Brasil de Pesquisa Econômica.
O governo brasileiro tem investido bilhões de dólares em novas infraestruturas. O mesmo ocorre com multinacionais diversas, como Kraft Foods, ImBev, Novartis, Unilever e Fiat, que construirão fábricas no Nordeste. “As marcas regionais têm sido particularmente bem sucedidas, porque elas parecem entender melhor os consumidores locais”, disse Eduardo Ragasol, presidente da Nielsen no Brasil. “Eles têm preço justo, embalagem adequada e as melhores ofertas”.
De acordo com um estudo realizado pela Nielsen, as famílias nordestinas estão menores, com menos crianças; a população está mais jovem; 43% das residências possuem quatro a cinco moradores; e 18% são compostas por mais de seis pessoas. Vendas porta a porta são extremamente populares, e os consumidores são muito sensíveis a preços baixos e promoções na hora do negócio. Mercearias de bairro são muitas vezes mais populares que grandes supermercados e somam 37% das vendas. Consumidores nordestinos visitam um supermercado 16 vezes por mês, mais do que em qualquer outra parte do Brasil.
“O Brasil costuma nos ver como uma região sem futuro, como a terra da preguiça”, disse André Torreta, fundador da consultoria de São Paulo e consultor da empresa Ponte Estratégica, natural de Salvador, a maior cidade do Nordeste. “Agora nós somos da cidade, nos tornamos parte do Brasil. Infelizmente essa é uma região cheia de contrastes, e não é nada fácil formular uma estratégia específica para o consumidor nordestino”, afirmou Torreta.
Nessa nova conjuntura, as empresas internacionais vão se adaptando aos consumidores da região, como é o exemplo da Nike, que lançou um tênis com as cores da bandeira de Pernambuco, com a sola branca salpicada de cor bege. A margarina Primor se tornou uma das marcas mais vendidas por criar um produto que não derrete com a alta temperatura do clima na região. A empresa suíça Nestlé desenvolveu um bolinho, vendido apenas no Nordeste, feito a partir de um prato típico da região.
Ainda de acordo com a AdAge Global, as empresas estão se esforçando cada vez mais para compreender como funciona o consumo local e se tornarem as líderes de vendas na região. A exemplo disso, comerciantes do alimento, como a Nestlé e a Danone, também se beneficiam do fato de que muitos consumidores no Nordeste gastam quase metade de sua renda em alimentos.
“Nós lançamos uma versão do nosso iogurte infantil mais popular, o Danoninho, com vitaminas especiais por sentirmos falta disso nas crianças do Nordeste”, disse Mariano Lozano, presidente da Danone no Brasil. “Nós desenvolvemos uma embalagem que permitiu baixar os preços aos consumidores, fazendo nossas vendas cresceram na região cerca de 139% ano passado”.
A Nestlé está se concentrando em venda porta a porta no Nordeste através de um programa chamado “Até Você”. Vendedores oferecem biscoitos, produtos lácteos, iogurtes e sobremesas, organizados em kits que variam de acordo com as preferências dos consumidores da cidade e local. Os vendedores são treinados para atuar como consultores de nutrição, ajudando os consumidores a compreender alimentação saudável.
“A demanda por nossos produtos mais do que dobrou no Norte e Nordeste em comparação com outras regiões brasileiras”, disse Francisco Garcia, gerente de marketing da Nestlé. “Esforços de marketing locais também são muito importantes. Nossas agências W/McCann, JWT e Publicis tem parcerias locais para o desenvolvimento de estratégias”, disse Garcia.
Apesar da renda ainda baixa, o crescimento econômico regional não se resume só a alimentos. Em Pernambuco, há um carro por 13,1 habitantes no Estado, em comparação com um carro para cada 5,12 pessoas no Brasil. Em São Paulo, há um carro para cada 2,43 habitantes.
A Fiat vai abrir fábrica de US$ 3 bilhões em Pernambuco no próximo ano, na esperança de impulsionar a venda de automóveis. A empresa já recebe 18,3% das vendas brasileiras do Nordeste, onde a quota de mercado é quase 28%, bem acima da sua quota de 22,8% de todo o mercado brasileiro.
“Vendemos mais no Nordeste do que todas as marcas francesas, japonesas e coreanas vendem a nível nacional”, disse o diretor de Marketing da Fiat, João Ciacco, que também é presidente da Associação Brasileira de Anunciantes. “Nosso investimento em marketing também tem crescido mais rapidamente – em 48% – do que o nosso investimento nacional”, completou.
Fonte: *Traduzido por Nathan Camelo e Luana Araújo, com informações da AdAge.com